Outro dia revi Blow-up (no Brasil, Depois Daquele Beijo), de Michelangelo Antonioni.
Após aquela partida de tênis um tanto insólita, apareceu o The End e eu, mais uma vez, fiquei parado tentando absorver toda força daquele filme. Antonioni não escolhe histórias para contar, prefere revelar mensagens, expor as angústias e os males que assolam intrinsecamente cada um ou até mesmo toda a sociedade. No meio dessa visão do mundo moderno, em pleno anos 60, ninho da revolução cultural e social, a contracultura fervilhava com idéias e questionamentos. Embora não seja porra-louca e nem tenha ecos da alma hippie, Blow-up é um das histórias mais fiéis de uma época, justamente por trazer um outro lado. Londres, onde se passa o filme, também é uma cidade fria e seca, e os anos 60, na verdade, estiveram mergulhados em um niilismo genuíno, reflexo dos ideais capitalistas e da globalização desenfreada. Com toda essa frivolidade, há certo distanciamento do que é real, do que verdadeiramente acontece. Com a estética em primeiro plano, as pessoas começam a basear sua realidade naquilo em que se é relatado, fotografado, gravado… E quando se vivencia nada é revelado aos olhos viciados.
Em seu primeiro filme em língua inglesa, Antonioni não se deixa intimidar e mascara seu filme de uma maneira que todos gostariam de ver: um colorido exuberante, trilha sonora sensacional assinada por um alucinado Herbie Hancock e tudo que era moda naquela época. Uma jovem Jane Birkin até apareceu nua em um papel pequeno, chocando os mais puritanos em 66 (a Warner cortou inexplicavelmente essa cena do dvd, causando furor nos fãs). Mas na verdade, todas as seqüências e ângulos (que por si só já é uma aula de cinema) fazem enxergar além da primeira impressão.
Como Thomas (David Hemmings), o fotógrafo blasé, descobre através de um suposto assassinato: Não basta só ver, tem que enxergar.